Encontrei meu ikigai e ganhei uma crise de ansiedade

Jan 27 (pt)

Vocês já ouviram falar de ikigai? Se sim, muito provavelmente já viram a mandala abaixo:

Muitos artigos e fontes divulgam o "ikigai" como um "método" ou "framework" para encontrar seu próposito de vida, com a promessa que no centro dessa mandala estará algo que ira te deixar feliz e recompensado, e pode ser que te deixe mesmo, mas nem sempre é assim.

Pois bem, no início de 2023, meados de janeiro, passei exatamente de 2 a 3 dias inteiros preenchendo cada um dos lados dessa mandala e buscando meu "propósito de vida" extremamente empolgado. Até que encontrei algumas coisas que fizeram sentido estar no centro:

  • Algumas vertentes de programação, música e educação.
  • Coisas que podem me pagar, que me considero bom, sou apaixonado e o mundo pode precisar.

A partir daí, já que havia "encontrado o meu ikigai" decidi que era em uma dessas áreas que eu deveria me dedicar ao máximo. Estar envolvido com elas iria me deixar realizado.

O fato é que eu ja era envolvido em uma delas (programação).

Gosto de programar e da minha profissão, e isso me fez acreditar que eu deveria me dedicar mais ainda, que esse seria um dos meus maiores objetivos. Que minha profissão poderia estar no centro.

Nesse ano, na área de TI, concluí uma pós graduação, atuei profissionalmente em uma empresa como CLT, programei em projetos paralelos, me comprometi com diversas atividades, dormi mal, tomei muita cafeína e ganhei minha primeira crise de ansiedade.

A culpa não é da mandala, a culpa foi minha.

A mandala é um exercício eficiente para nos ajudar a encontrar algo que sabemos fazer, somos apaixonados, pode nos pagar e o mundo pode precisar.

Só que, o que há no centro pode não ser nosso propósito de vida. E também pode não ser o nosso ikigai:

  • Nosso propósito de vida não precisa nos pagar.

  • Nosso propósito de vida não precisa mudar o mundo.

  • Não precisamos ser bons (podemos nos tornar bons).

No final das contas "ikigai" pode ter se tornado mais uma palavra absorvida e distorcida pelo mundo "coach coorportativo". O que é uma pena, pois um ano depois de ter feito a mandala descobri o real significado de ikigai: Razão de viver

Nesse ano, um amigo me falou algo que chamou atenção:

"Busque conhecimento em vias impressas (livros, revistas) e não digitais. No mundo online, tudo é editável e pode ser alterado a qualquer momento. Algo impresso é difícil de alterar, portanto, existe um esforço maior em garantir a veracidade e qualidade nas informações contidas ali."

Até então, eu nunca tinha lido um livro sobre ikigai, apenas artigos.

Pois bem, chegou 2024 e foi através de uma via impressa (um livro) que minha visão sobre ikigai mudou.

Nosso real ikigai

"Ikigai é uma palavra japonesa que descreve os prazeres e sentidos da vida. A palavra consiste literalmente, e "iki"(viver) e "gai" razão

Na língua japonesa, ikigai é um termo usado em vários contextos, e pode se aplicar a pequenas coisas diárias, assim como a grandes objetivos e conquistas"

– "Ikigai", Ken Moji, p. 16

Ikigai representa aquilo que nos mantêm vivos, as razões pelas quais levantamos da cama todos os dias. Sim, "razões" no plural.

Podemos ter vários "ikigais".

Ikigai está presente nas pequenas coisas. ikigai está presente nos pequenos passos. Ikigai está presente no equilíbrio e harmonia.

Nossa razão de viver pode ser nosso filho ou filha.

Pode ser uma comida que gostamos de comer, o ar que respiramos todas as manhãs.

Ah, podemos encontrar razão de viver em nossa profissão também.

No final das contas, nossas razões de viver (e fazer o que fazemos) são as coisas que buscamos e desfrutamos dia após dia no presente, e não no futuro.

Ikigai também é sobre estar presente. Ikigai também é sobre trabalhar em busca da sua razão (Fazer algo que não gostamos em busca de algo que almejamos).

Diferente do ano passado, em que fazer a mandala me trouxe poucos resultados práticos. Esse ano, entender o que de fato significa ikigai, já me trouxe grandes diferenças na relação com a vida.

Comecei a me perguntar, porque faço o que faço? Qual é a razão de tudo isso?

Comecei a apreciar mais pequenos momentos, como o sabor do meu café da manhã (Comer bem também pode ser uma razão de viver, porque não?) e o vento fresco da janela com aroma de mato molhado após um dia de chuva.

Passei a prestar atenção no que me apaixona no dia a dia em minhas atividades profissionais e o que não tanto. Descobrir que o processo deve ser mais importante do que a recompensa, devemos nos libertar do ego.

Consequentemente minha vida começou a ficar mais leve, encontrei e prestei atenção em todas as pequenas coisas que me movem.

Meu real ikigai.

Ikigai não é método, não é ferramenta, é uma palavra japonesa que significa: Razão de viver, apenas isso. E os livros exemplificam como os japoneses incorporam a razão de viver em sua cultura.

Quais são seus "ikigais", hoje?

O que te faz levantar da cama todos os dias?

O que você continuaria fazendo independente de estar "ganhando" ou "perdendo"?

"Não são só os vencedores que têm ikigai. Vencedores e perdedores podem ter ikigai em pé de igualdade na grande coordenada dança que é a vida. Pela perspectiva interior do ikigai, a fronteira entre vencedores e perdedores derrete gradualmente. No fim das contas, não há diferença entre vencedores e perdedores. É tudo questão de ser humano."

– "Ikigai", Ken Moji, p. 161

Se você tiver vontade de fazer a mandala, vá em frente, é um exercício legal, mas antes, liberte-se da recompensa rápida e coorporativismo: leia um livro sobre ikigai.

É mais profundo do que parece.

Livros:



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